2 de dez. de 2007

Um possível perfil do trabalhador da construção civil (3/4)

Medicina no Trabalho - Quase 100% dos trabalhadores participaram nas respostas, cerca de 60% dos trabalhadores responderam positivamente à Pergunta 11 - “consulta de medicina no trabalho” e detectam-se sintomas de mal-estar em apenas 9% dos trabalhadores que responderam à Pergunta 12 – “sente-se com saúde” e em 22% dos trabalhadores que responderam à Pergunta 13 – “tem vertigens”. Desta relação destaca-se a seguinte particularidade: os trabalhadores das categorias profissionais “Calceteiro” e “Cantoneiro”, dos quais 73% não foi a uma consulta de Medicina no Trabalho, embora 82% respondam positivamente à Pergunta 12 – “sente-se com saúde” mas 65% revelam o mal-estar vertigem nas respostas à pergunta à Pergunta 13 – “tem vertigens”. Este sintoma “vertigens”, designado sindroma vertiginosa com o código 43.01 na lista de doenças profissionais do Decreto Regulamentar n.º 6/2001 de 5 de Maio, pode estar relacionado com o efeito fisiológico do ruído, é pois, importante e urgente uma consulta de Medicina no Trabalho bem como a avaliação da necessidade de utilização de auriculares;

Estaleiro - As respostas revelaram-se quase unânimes na avaliação positiva das condições do local de trabalho e com uma participação de 97% dos trabalhadores. A resposta à Pergunta 14 – “estaleiro limpo” obteve a aprovação de 63% dos trabalhadores, a Pergunta 15 – “estaleiro organizado” com cerca de 63% dos trabalhadores e a Pergunta 16 – “instalações sanitárias” com 82% das respostas positivas. Pelo que se constata na realidade vivida em estaleiros, no meu ponto de vista, não é isso que se passa. Não posso aceitar, porque sou mulher?, como “estaleiro limpo” um local de trabalho onde se vê lado a lado aparas de madeira e restos do lanche dos trabalhadores, “estaleiro organizado” um local de trabalho onde os armazéns não estão identificados, os materiais depositam-se nos espaços livres sem qualquer ordem ou estratégia, as ferramentas estão espalhadas pelo chão, existe um vai e vem inútil dos trabalhadores entre o posto de trabalho e “onde estará o que preciso” e por fim “instalações sanitárias” não são a árvore mais escondida, o papel higiénico não decora a natureza, nem os cafés mais próximos devem ser tidos em conta;

Emergência – Neste caso também a aderência dos trabalhadores foi na ordem dos 96% de participantes. À Pergunta 17 – “sabe o que fazer em caso de acidente” responderam positivamente 80% dos trabalhadores, à Pergunta 18 – “sabe onde estão os números de telefone” responderam positivamente 69% dos trabalhadores e à Pergunta 19 – “sabe quem é o Socorrista” as respostas inverteram o sentido e 73% dos trabalhadores responderam negativamente. Daqui se infere que em caso de acidente não há ninguém nomeado para accionar o Plano de Emergência e pela resposta positiva às outras duas questões pode-se concluir que os trabalhadores saberão reagir, e até eventualmente telefonar, em caso de acidente;

Segurança no Trabalho – A distribuição das respostas à Pergunta 20 – “ já teve algum acidente e trabalho” é quase equitativa com 41% de trabalhadores a responderem positivamente, dos quais apenas 37% respondem à Pergunta 20.1 – “tipo de acidente”. Os acidentes “ferimentos leves” são assinalados por 72% dos trabalhadores e os “ferimentos graves” por 19% dos trabalhadores, 43% dos trabalhadores indicaram acidentes com baixa que resultaram em 3.483 dias de baixa ou seja uma média de 23 dias de baixa por cada trabalhador que sofre um acidente. Valores bastante elevados que revelam que o acidente, mesmo que o trabalhador o considere “ferimento leve”, é de facto, um “ferimento grave” com o consequente prejuízo pessoal e para a empresa. Isto representa em custos directos, no mínimo, considerando grosseiramente que se trata de um trabalhador da categoria profissional “Servente” com o salário mensal de 450 euros, recebendo 4/5 do salário no período de baixa, obtém-se o valor de 276 euros para os custos directos. Sabendo que os custos indirectos podem ser até 4 vezes os custos directos, obtemos o valor do acidente como sendo 5 vezes aquele valor, ou seja, 1.380 euros por cada trabalhador que sofre um acidente;

Técnico de Segurança e Higiene – Existe um equilíbrio entre as respostas dos 64% trabalhadores que respondem negativamente à Pergunta 21 - “conhece o Técnico de Segurança e Higiene” mantendo a mesma tendência de respostas negativas para as questões que se relacionam com a actividade do Técnico de Segurança e Higiene, com 59% de respostas negativas à Pergunta 22 – “teve formação sobre Segurança e Saúde”, com 71% de respostas negativas à Pergunta 23 – “leu alguma parte do Plano de Segurança e Saúde”. Daqueles que responderam positivamente a esta questão apenas 29% dos trabalhadores se atrevem a identificar que parte do Plano de Segurança e Saúde leram e 51% das respostas recaem no Horário de Trabalho, obviamente algo que é “resposta oferecida de cruz”. Significam boas e más notícias: que há ainda muito trabalho para o Técnico de Segurança e Higiene desenvolver!

2 comentários:

debora disse...

Sou fonoaudióloga e estou fazendo o meu trabalho de conclusão da especialização em vertigem nos trabalhadores da construção civil. Vi este blog e me interessei pelo conteúdo desta pesquisa. Seria possível ter acessos a mais dados?? Encontro pouca bibliografia sobre este assunto e me chamou a atenção este perfil do trabalhador. Desde já agradeço, Débora (desaltiel@hotmail.com)

Mónica disse...

olá Debora: forneço os dados que quiser "um possível perfil, etc etc" resulta de um inquérito que fiz a cerca de 400 trabalhadores da construção civil. no entanto a ideia de associar a vertigem devido ao ruído do trabalho dos pedreiros é uma hipotese minha que carece de prova.